O homem é espírito e matéria. Todos sentimos em nós esse dualismo. A matéria é
perecível, o espírito, imperecível. Que é imperecível deduz-se pelo fato de o homem ter ínsito
em si o tríplice desejo de vida, verdade e amor, certamente irrealizável aqui, mas como a
natureza não se engana, há que realizar-se alhures, em outra forma de vida.
A matéria arrasta o homem para o visível, para o sensível, para a terra, para satisfazerse
aqui e agora. A honra o seduz; a fortuna, a posse, o prazer o atraem, mas, se ele os tem, não
se sacia, continua desejando, ciente, contudo, da finitude da vida. Que adianta ter tudo, se um
dia vai perder tudo. Há momentos em que ele se sente invadido pela angústia; um temor
esquisito se apodera dele, mesmo quando não há razão aparente.
Acompanha-o por toda parte e sempre a sede de felicidade, mas felicidade é gozo da
verdade. Pode-se encontrar quem queira enganar os outros, mas ninguém que queira ser
enganado. A verdade encontra-se no cultivo do próprio interior. É a vida interior que torna o
homem mais humano, mais livre, mais senhor de si. Distanciando-se da vida interior, o
homem distancia-se da verdade, da felicidade. Sempre podem-se encontrar pessoas muito
ricas e infelizes e pessoas pobres relativamente felizes. Quantos desfrutam de todos o
prazeres, mas em seu íntimo sentem-se vazios. O filósofo cristão Agostinho criou uma frase
que exprime bem o que o homem realmente procura: Ad Te Deus nos fecisti et irriquietum est
cor nostrum donece requiescat in Te1.
Em todos os tempos e em todas as partes da terra, homens se preocupam com seu
destino e procuram conhecer o sentido da vida, e há os que, não satisfeitos de cuidar de si,
preocupam-se com os outros e dão início a uma religião ou a movimentos religiosos,
apontando a felicidade e como fazer para alcançá-la.
Religião é relação do homem com a divindade. A religião do homem primitivo era
uma religião anímica: animais, plantas, montes, fontes, forças da natureza eram para ele como
que divindades.
1 Santo Agostinho. Confissões I, 1,1: Fizeste-nos, Senhor, para ti e inquieto está nosso coração
enquanto não repousar em tiAs grandes religiões que conhecemos são o cristianismo - com suas várias
denominações, o judaísmo, o islamismo, o budismo. Todas tiveram o seu fundador.
Na Grécia antiga praticava-se a religião dos deuses olímpicos, o culto a Dionísio, deus
Baco, a religião de Elêusis e a religião órifica, o orfismo.
Dante Tringali considera o orfismo como uma das mais importantes religiões da
humanidade, uma religião completa, bem organizada... com sua dogmática, sua moral, sua
ascese, sua mística e sua liturgia; considera também que há relações e analogias entre o
orfismo e o cristianismo2.
Tem-se a Orfeu como fundador do orfismo.
Sobre ele nada se sabe. A primeira referência a ele é feita pelo poeta Íbico de Régio
que diz ser Orfeu um nome famoso – onoma klyton. Sobre Homero também nada se sabe, mas
pelo menos atribuem-se-lhe duas epopéias, e sete cidades disputam a honra de ser sua pátria:
Smyrna, Chios Colophon, Salamis, Rhodon, Argos, Athenae
Orbis de Patria certat, Homere, tua.
Por ser o orfismo uma religião popular e por nada se saber sobre seu fundador, a não
ser o nome, criaram-se lendas mirabolantes em torno dele, passando a ser ele apenas uma
figura lendária, mítica. Sua mãe foi uma musa, Calíope, seu pai um rio da Trácia, Oeagro, e
sua esposa, a ninfa Eurídice. Tendo esta morrido, ele desceu ao Hades para reavê-la e,
encantando os ínferos com sua música, conseguiu que ela o acompanhasse de volta à vida,
mas perdeu-a definitivamente por ter olhado para trás, desatento ao interdito; participou da
expedição dos argonautas - lenda que o coloca bem antes de Homero – foi devorado pelos
Titãs, mas, renascido foi, por fim, esquartejado pelas bacantes.
Essas criações, principalmente sua Katábasis ao Hades, e outras mais fazem dele um
herói, e seu contato, sua experiência com o outro mundo, tornou-o um sábio capaz de ensinar
os mistérios da vida. Todas elas têm, afinal, um significado mítico.
Na mitologia, o herói nasce de uma divindade e de um ser humano. Deve passar por
ritos iniciáticos e se consagra como herói enfrentando muitas provações e, ao final, uma morte
violenta.
Quem consegue ir ao mundo do além e voltar torna-se sábio, é apto a instruir, orientar,
ensinar. Quem consegue voltar do caminho sem volta, não é mais tão-somente humano3 .
De qualquer forma, houve um homem que deu início ao orfismo e foi certamente um
homem de grande valor, recebeu um nome que se tornou famoso, foi um teólogo, um herói,
um poeta, talvez um excepcional músico e cantor. Isso é algo que se pode aceitar.
Se o que se diz sobre Orfeu são criações míticas para fundamentar e valorizar
ensinamentos, o orfismo foi uma religião histórica, popular e teve muitos seguidores, mas dáse-
lhe importância exagerada.
Existem muitas obras poéticas sob o nome Orfeu; há os hinos, os argonáuticas, os
líticas. Com base nessas obras e através de Píndaro, Eurípedes, Platão..., pode-se chegar a
conhecer algo da fase primitiva do orfismo. Na fase antiga, circulavam algumas teogonias
ditas órficas. O neoplatônico Damásio fez uma resenha delas em seu escrito Perì tòn próton
archón. Muito conhecido foi o poema em vinte e quatro cantos, hoje conhecido com o nome
Teogonia rapsódica. O que se sabe sobre esses cantos permite conhecer, em seu aspecto
formal, algumas derivações hesiodeas. Trata-se da criação do mundo, em que se misturam
cosmogonia e teogonia.
Os Titãs haviam despedaçado e devorado Zagreu, o primeiro Dionísio, mas, Júpiter,
com seus raios, o transformou em cinzas, da qual nasceu o homem que traz em si o elemento
divino, dionisíaco, e o elemento mau, titânico, terreno, por isso os órficos tinham uma
concepção pessimista da natureza humana. E, com alguma segurança, podem se situar, já no
sexto século, os traços essenciais dessa lenda, desses ensinamentos. É a partir dessa lenda que
se desenvolvem as concepções da natureza e da alma, muito diversas das de Homero. A alma
contém a verdadeira essência do homem, o elemento divino. Após a morte, a alma não é
apenas uma sombra reclusa no Hades (Homero), mas, de acordo com sua vida pregressa, ela
vai para a Ilha dos Bem-aventurados ou sujeita-se à transmigração ou submete-se a castigos,
que para alguns autores são eternos, para outros, não.
Píndaro, na II Olímpica, faz referência a essa crença e, visto dirigir-se a Terão de
Agrigento, seguidor da doutrina órfica, bastante difundida na região (demonstram-no as
lâminas de ouro da Itália meridional chamadas passaportes dos mortos – Diels -, que eram
colocadas nas tumbas dos mortos da seita e deviam ajudá-los a encontrar o caminho certo do
além: sejas bem-vindo, tu que caminhas pela estrada da direita em direção às campinas
sagradas e ao bosque de Perséfone...), é bem provável que a crença a que ele se refere seja a
órfica. Com base nesse escrito, pode-se supor que os órficos cultivassem a crença numa vida
feliz além-túmulo ou em sucessivas reencarnações, e que se esforçassem por purificar a alma
para que assim ela pudesse livrar-se do peso do corpo, libertando o divino da prisão.
Além dos escritos teogônicos, contam-se ainda os carmes de purificação e uma
katábasis, ou descida de Orfeu aos ínferos.
Como membros de um movimento de profunda religiosidade, os órficos formavam
grupos, faziam reuniões, ouviam instruções sobre os ensinamentos e praticavam ritos
diversos.
Quanto ao orfismo e, em especial à doutrina da transmigração, não se pode precisar a
origem. De qualquer forma, o desenvolvimento do orfismo se deu no mundo grego. Mas, por
serem escassos os escritos órficos e pouco se saber sobre ele não se pode sobrevalorizá-lo.
É interessante acrescentar o que escreve Tringali: os órficos acreditam num pecado
original coletivo, na existência do elemento titânico, o corpo, de que se devem libertar... os
homens se distinguem pela virtude... o corpo é perecível, a alma, imortal, preexiste e
sobrevive ao corpo e se destina a um lugar feliz ou a um lugar de penas ou a reencarnações
sucessivas. Da crença na transmigração deduz-se o vegetarianismo.
Como eram devotos de Dionísio tinham momentos de êxtase, mas individualmente,
não coletivamente como os dionisíacos. O orfismo abarcava a vida integral do homem, tinha
sua ascese e seu culto, principalmente a iniciação. Influenciou a filosofia e deixou marcas na
poesia. Mais afinidades tem Platão com o orfismo e mais relações há entre o orfismo e o
pitagorismo. O homem é um composto de corpo e alma. A alma, centelha divina, é prisioneira
do corpo; há reencarnação, pratica-se a purificação; há um destino eterno. Tanto os órficos
quanto os o pitagóricos respeitavam os animais4.
Atribui-se importância exagerada ao orfismo, atribuem-se analogias e relações com o
cristianismo. Se há alguma analogia entre ambas as religiões, ela existe certamente no
dualismo corpo - alma e no antagonismo entre aquele e esta, pregado pela filosofia platônica e
abraçado por Santo Agostinho; existe mais ainda na crença na imortalidade da alma,
diferindo, no entanto, uma da outra quanto ao destino do corpo. Para o orfismo o corpo,
cárcere da alma, é por ela abandonado na morte e segue seu destino, a corrupção,
simplesmente torna-se pó.
O cristianismo, referindo-se ao corpo, diz: memento homo quia pulvis es et in
pulverem reverteris5 – lembra-te, homem, que és pó e ao pó voltarás -, mas prega que também
o corpo ressuscitará.
Para o cristianismo o corpo não é titânico, proveniente do mal, mas companheiro e
instrumento da alma, é criatura de Deus e é sagrado: não sabeis que sois o templo de Deus e
que o espírito de Deus habita em vós?6 O próprio filho de Deus assumiu o corpo humano e o
elevou ao céu.
Mas, dirá alguém:
Como ressussitam os mortos? Com que corpo voltam eles? Insensato! O que
tu semeias não retorna à vida se não morrer e o que tu semeias não é o
corpo que virá um dia (não é a planta que surgirá) mas um simples grão...Há
corpos celestes e há corpos terrestres... Semeia-se corpo animal, ressussitase
corpo espititual; o primeiro homem tirado da terra é terreno, o segundo
vem do céu7.
Mas, o que há de mais comum entre ambas, como entre todas as religiões, é que todas
pregam o bem, a felicidade do homem, e que o homem deve relacionar-se com a divindade.
No entanto, entre o orfismo e o cristianismo há uma distância incomensurável. O deus
do orfismo é Dionísio, mas os órficos certamente reconheciam outras divindades, ao passo
que o Deus do cristianismo é o Deus revelado, Deus único, é a Santíssima Trindade.
Distância inigualável entre o cristianismo e o orfismo há ainda quanto à reencarnação.
O orfismo afirma-a, o cristianismo a repudia totalmente. Cristo jamais falou de reencarnação,
ele só pregou ressurreição:
Et quemadmodum statutum est homnibus semel mori, post hoc autem
judicium – e como está decretado aos homens morrer uma só vez, depois
disso, o juízo8.
Distância infinita existe entre ambas as religiões em razão dos fundadores. Quem é
Orfeu? Quem é Jesus Cristo? Sobre Orfeu já ouvimos; quanto a Cristo, ele é homem
verdadeiro, bem situado na história, e é também verdadeiro Deus.
O que dizem os evangelhos sobre ele, o que ele falou e ensinou, como foi sua
passagem por este mundo prova sobejamente que ele é Deus.
Vejamos: suas parábolas, por exemplo, o filho pródigo, o bom pastor..., o sermão da
montanha, como superou em todos os enfrentamentos os chefes do povo de Israel. Eles
queriam apanhá-lo com alguma cilada para condená-lo à morte:
- Mestre, é lícito pagar imposto a César?
- Mostrai-me uma moeda. De quem é a imagem e inscrição?
- De César, respondem.
- Daí, então, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus9.
- Mestre, apanhamos esta mulher em adultério. A lei manda apedrejá-la.
Que dizes?
- Atira a primeira pedra quem estiver sem pecado.
Ninguém teve coragem de fazê-lo, lendo o que ele escrevia no chão. E ele
voltando-se para a mulher disse:
- Ninguém te condenou?
- Ninguém, Senhor.
- Nem eu te condeno, disse Jesus. Vai em paz e não tornes a pecar.10
Após a ressurreição, soprando sobre eles disse: Recebei o Espírito Santo, aqueles, a
quem perdoardes os pecados, serão perdoados11.
E, ao ladrão, na hora da morte disse: Ainda hoje estarás comigo no paraíso12.
Nenhum sábio, nenhum filósofo, nem um fundador de religião ensinou o homem a
dirigir-se a Deus chamando-o de Pai. Somente ele o fez, ensinando a mais bela, a mais sábia,
a mais completa oração.
E mais, ele proferiu palavras inauditas sobre si mesmo:
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá
eternamente; e o pão que eu darei é a minha carne pela vida do mundo
Puseram-se, então, os judeus a altercar entre si dizendo: Como pode ele darnos
a comer a sua carne? Jesus disse-lhes: Em verdade, em verdade vos
digo: se não comerdes a carne do filho do homem e não beberdes o seu
sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe meu
sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no ultimo dia...
Muitos dos seus discípulos depois de ouvirem tais palavras disseram: É dura
tal linguagem, quem pode escutá-la?13
Por isso, perguntou Jesus aos doze: Também vós quereis partir? Respondeulhe
Simão Pedro: Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida
eterna...
E o que disse ao sumo sacerdote no momento em que este solenemente lhe perguntou:
És o Filho de Deus? Ele respondeu claramente: Eu o sou.
Que homem diria tais palavras, palavras cujo sentido ultrapassa toda a capacidade
humana, sem ser considerado um desvairado? Ele, porém, as disse com a autoridade de quem
as pode dizer.
Como enfrentou o martírio. Momentos antes da prisão, suou sangue. Depois de uma
noite de tortura tomou a cruz em seus ombros e todo cheio de chagas e coroado de espinhos
fez a caminhada até o Monte Calvário.
Durante três horas, em intermináveis segundos suspenso na cruz, com as mãos e os pés
perfurados, suportou o martírio com total domínio da dor, mantendo toda a lucidez de espírito
e proferindo palavras distintas e plenas de sentido.
Nesses momentos supremos de sua paixão, proferiu palavras que nos fazem pensar. Às
mulheres que choravam por vê-lo em tanto sofrimento: Não choreis por mim. Chorai por vós
mesmas e por vossos filhos15. E , ao ser pregado na cruz: Pai, perdoai-lhes porque não sabem
o que fazem16. E dando por encerrada a sua missão, dirigiu-se ao Pai: Pai, em tuas mãos
entrego o me espírito17. E finalmente, dando um alto brado, disse: Consumatum est 18. E
trevas cobriram a terra.
Que homem seria capaz de suportar tão grande martírio com total domínio sobre a dor
e total controle de suas emoções?
Já houve quem dissesse que tudo isso, tudo o que consta nos evangelhos, não passa de
criações cerebrinas, como se alguém fosse capaz de tais criações. Nem os maiores sábios
seriam capazes de elaborar o que está contido nos evangelhos, máxime certas frases ditas por
Jesus, as quais seriam um completo absurdo proferidas por alguém que não fosse ele. Ele,
porém, teve autoridade para dizê-las.
Reconhecem os racionalistas que Jesus teve a inteligência mais sublime que um ser
humano pode ter, que ele criou o ensinamento mais perfeito para a humanidade, que ninguém
será capaz de compreender, de conhecer, em profundidade, suas sentenças e parábolas, que
ele foi de absoluta perfeição moral, de conduta delicada, que se conduziu na vida com toda
humildade, mas também com soberana autoridade, que suportou os sofrimentos mais atrozes,
todo ódio, ofensa, com completo domínio sobre si, que foi perfeito na inteligência e na moral,que foi a alma mais bela que já existiu, que é mais que homem, que há entre Ele e nós uma
distância insuperável.
Escreveu Rousseau: Se a vida e a morte de Sócrates são de um sábio, as de Jesus são
as de um Deus19.
Renan o coloca no mais alto cimo de grandeza humana, como princípio inesgotável de
conhecimento moral20.
Dizem e pensam tudo isso sobre Jesus os racionalistas, mas não o reconhecem como
Deus, o que é o mesmo que afirmar uma coisa e ao mesmo tempo negá-la. Dizendo ser Jesus
inatingível por qualquer homem na inteligência, na moral, no domínio sobre si mesmo, ser
perfeito em tudo, mas não aceitar o que ele disse sobre si mesmo é o mesmo que tê-lo por
paranóico, por impostor, pois, ele afirmou repetidas vezes que é o Filho de Deus, que existe
antes de Abraão, que é mais que Salomão e chegou a ameaçar de condenação quem não
acredita nele, que tem todo poder no céu e na terra e que virá no dia do juízo julgar toda a
humanidade. Diante disso, devemos dizer que eles é que são insensatos. Jesus Cristo é
realmente o Filho de Deus e o cristianismo é uma religião divina.
A maioria dos homens, no tocante à religião, ainda hoje dependem da razão, não têm
clareza sobre aquilo que realmente interessa saber: de onde vêm, para onde vão, qual o
sentido da vida, de onde vem o universo.
Ao passo que os cristão sabem, pela revelação, que Deus é o princípio e o fim de tudo,
que a lei máxima que garante a felicidade do homem é: amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como cada um se ama.
A teologia cristã está contida no credo niceno-constantinopolitano, ato de fé na
revelação – mesmo as igrejas cristãs que não o adotam aceitam o que nele se afirma: há um só
Deus, ser supremo, criador da terra e de tudo que nela existe, dos bilhões e bilhões de estrelas.
Jesus Cristo é o enviado do Pai, gerado e não criado. Ele veio para libertar o homem do jugo
do pecado e para orientá-lo rumo à eternidade feliz. Ele veio ao mundo nascendo como
homem do seio de Maria. Ele é Deus como o Pai, natureza divina desde toda a eternidade,
Verbo de Deus, que assumiu no tempo a natureza humana; é, portanto, verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, uma pessoa, a divina, em duas naturezas. Há também o Espírito que
procede do Pai e do Filho, Deus como o Pai e o Filho. Em Deus, há, pois, três pessoas, ou82
Deus é uno em três pessoas, é o mistério dos mistérios. Tanto dista da mente humana, quanto
dista o nada do tudo.
Não se pode comparar o átomo em grandeza com o universo. Não pode o homem, um
ser tão pequeno como um grão de pó, perdido no universo, pretender compreender Deus que é
simplesmente infinito, que é infinitamente maior do que tudo que sabemos, e de tudo que não
sabemos. O mistério da Trindade é por isso artigo de fé, não da compreensão do ser humano.
Para coroar a crença na Trindade, na vinda de Cristo ao mundo para redimir o homem
do pecado, o cristão crê firmemente na ressurreição e na vida eterna. São esses os
ensinamentos, e para ajudar a manter a fé nesses ensinamentos revelados e a esperança na
vida eterna e assim crescer no amor a Deus e ao próximo e manter-se no caminho que o leva à
felicidade, a sua plena realização como ser humano propõe-se a leitura e meditação da Bíblia,
especialmente o Novo Testamento, conjunto de livros que se consideram como a carta de
Deus aos homens, como a revelação dos planos divinos.
Outros meios são: participação nos cultos religiosos, encontros de estudos, orações
comunitárias, a prática da caridade, da ascese.
Além desses meios, ou melhor, como meio por excelência, a igreja Católica Romana,
assim como a Ortodoxa e algumas denominações evangélicas, reavivam e rememoram o
sacrifício de Cristo, centro da vida cristã. Há ainda os sacramentos: batismo, crisma,
penitência, eucaristia, matrimônio, ordem e unção dos enfermos.
Como norma de conduta de vida, propõem-se os dez mandamentos. São leis entregues
por Deus a Moisés. São o caminho que todo homem, e não apenas os cristãos, deve seguir se
quiser ser feliz, pois são compêndios da lei divina.
Mas, o homem é livre e Deus respeita a liberdade do homem.
Por essas razões, vemos que entre Orfeu, figura mítica, e Cristo, homem na história e
Verbo de Deus, a distância é infinita, e que a distância entre o orfismo e o cristianismo é a que
existe entre aquilo que o homem é capaz de conhecer pelos seus próprios recursos e aquilo
que lhe é revelado por Deus.
Para concluir, Deus é o bem supremo. É princípio filosófico: Bonum difusivum sui.
Deus criou o homem no transbordamento de sua felicidade e quer a felicidade do homem.
Pode uma mãe esquecer o fruto de suas entranhas? Eu jamais me esquecerei.
Num encontro com Dalai Lama, Leonardo Boff perguntou: Santidade, qual é a melhor
religião?
Dalai Lama respondeu: A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, é a que
te faz melhor.
-Prof Aluizio Fávaro
-Professora Cláudia Valéria Penavel Binato.